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Andar a pé tem tudo a ver com memória, e ação na zona sul mostra o porquê

Adriana Terra

27/12/2018 13h05

Foto: Letícia Sabino

Conhece o Jardim Nakamura? Parte do distrito Jardim Ângela, na zona sul, perto do Parque Estadual Guarapiranga, chegou a ser considerado nos anos 1990 o bairro mais perigoso do mundo pela ONU — essa matéria da Repórter Brasil explica um pouco os motivos, desde questões referentes a planejamento e empregos na ocupação originária do bairro, até como a situação começou a ser revertida.

Além de investimentos públicos, ações sociais realizadas junto a população e organizações locais vêm ocorrendo por ali há alguns bons anos (a Olha o Degrau, da Cidade Ativa, é uma delas). A mais recente tem muito a ver com o que falamos no blog: caminhar para conhecer, criar conexões afetivas com os espaços, além de promover uma mobilidade menos agressiva.

"Passeia, Jardim Nakamura" é um projeto proposto pelas organizações SampaPé! e COURB (Instituto de Urbanismo Colaborativo), com apoio do Fundo Casa Cidades, que implementa sistema de placas que contam histórias do bairro e trazem informações sobre os deslocamentos a pé — que são maioria na região. Nos dias 7 e 8 de dezembro, foi realizado um mutirão espalhando pelo bairro placas de indicação (que apontam em que direção e a que distâncias estão os locais de interesse), de localização (que apontam onde a pessoa está com apoio de um mapa) e de informação (que contam a história de lugares importantes dali).

Trata-se de um projeto piloto de "legibilidade cidadã", as ONGs propositoras do projeto explicam, ou seja, uma iniciativa que busca implantar no espaço público elementos de comunicação para que os cidadãos conheçam melhor seus territórios, entendam seus caminhos e se apropriem das histórias contadas pela paisagem.

A ação foi feita com ajuda de entidades, profissionais e estabelecimentos locais, como o Instituto Favela da Paz, o articulador Roger Beats, a Associação Família Nakamura, a Fluxo Imagens, os restaurantes Vegearte e Nana's BK, o Estúdio Daó, escolas da região, a Subprefeitura de M'Boi Mirim e os coletivos Ciclo Social Arte e Manifestintação Crew — o grafite (bem como o samba) é forte na região (nessa matéria do programa Manos e Minas dá para saber mais sobre o assunto) e rolaram, inclusive, novas pinturas nessa última ação, como mostra a foto abaixo.

Foto: Fluxo Imagens

Michel Onger, artista envolvido na iniciativa, destaca a importância da ação no campo da memória. "Pra gente foi bem bacana se juntar ao projeto, porque ajuda a registrar nossa história, que normalmente é difundida apenas de forma oral e pode ficar perdida até mesmo para pessoas do bairro."

Já Letícia Sabino, da Sampapé!, explica que iniciativas como essa ainda são tímidas no Brasil, e quando existem focam nas regiões centrais e de apelo histórico mais evidente. "Dessa forma, outros bairros ficam à margem, como se não tivessem histórias a ser contadas ou não precisassem de um sistema de informações às pessoas que caminham."

Em 2019, a iniciativa continua com a criação de um roteiro a pé pelo bairro, baseado na ideia de cidades educadoras, ou seja, a cidade onde se aprende caminhando.

Sobre a autora

Adriana Terra é jornalista e gosta de escrever sobre a cidade e sobre cultura. É co-criadora da série “Pequenos Picos”, mapeamento afetivo de comércios de bairro da capital paulista, e mestranda em Estudos Culturais na EACH-USP, onde pesquisa lugares e modos de vida. Foi criada em Caieiras e há 15 anos vive no centro de São Paulo. Na zona noroeste ou na Bela Vista, sempre que dá, prefere ir caminhando.

Sobre o blog

Dicas de lugares, roteiros, curiosidades sobre bairros, entrevistas com personagens da cidade, um pouquinho de arquitetura e mais experiências em São Paulo do ponto de vista de quem caminha.

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