"Bixiga a Pé": mapear uma região como forma de refletir sobre ela
Em um pedaço do centro de São Paulo onde ainda é possível ver crianças descendo as ruas de carrinho de rolemã até altas horas, testemunhar discussões acaloradas que partem das janelas das casas (e se estendem pelo quarteirão inteiro), um lugar onde a conta pode ser pendurada no mercadinho e cada bar tem seu grupo de samba (e cada esquina tem seu bar), locomover-se a pé parece natural: trata-se de um bairro onde o fator humano resiste.
Foi a partir de caminhadas pelo Bexiga que começaram em 2012, mesmo ano da fundação da ONG, que a Sampapé decidiu colocar na rua a iniciativa de criar um mapa diferente da região, contando um pouco da história de pontos importantes. Bixiga a Pé, o nome do projeto, está agora em fase final de captação de recursos via financiamento compartilhado.
Propagar a história da Casa do Mestre Ananias, capoeirista baiano de importância fundamental na preservação da cultura nordestina em São Paulo, falar dos muitos teatros, das influências de vários países na arquitetura local, da escola de samba Vai-Vai e de outros territórios que existem ali é um dos motes. Além do mapa impresso, a Sampapé quer implementar a sinalização no Bexiga, indicando pontos importantes para a formação do bairro de origem africana, notório pela presença italiana, que recebeu também muitos portugueses e que vem, nas últimas seis décadas, abrigando cearenses, paraibanos, pernambucanos e baianos — pode ter certeza que o queijo de coalho, o bolo barra branca e o dendê das mercearias que ficam abertas até tarde não são por acaso. Hoje, o local também é casa de migrantes haitianos e de diversos países africanos.
"Tem culturas que se sobrepõem no material, e outras que têm que ser referenciadas por outros elementos que consigam trazer mais camadas da história", diz Letícia Sabino, diretora do Sampapé. Ela conta que uma das descobertas feita a partir de caminhadas no bairro foi a Vila Itororó, que conheceu quando o local ainda tinha moradores. "Isso ajudou a pensar a especulação, o que é patrimônio e o que não é. Acho que esse é um dos temas que se repetem ali", diz. Nas andanças nos últimos anos, Letícia percebeu que a região passou por várias mudanças, ao tempo em que também muita coisa se preservou.
Indicar os lugares não pode tirar um pouco a graça do caminhar mais errante? "A partir da sinalização talvez você explore mais, porque o seu espaço de autonomia aumenta. E quando a gente fala de uma cidade em que muita gente deixou de caminhar por medo, isso é importante", pontua a diretora da ONG.
A Sampapé promove passeios e grupos de estudos com a intenção de estimular uma relação mais sensível com a cidade, entendendo onde a gente pisa para entender o contexto em que vivemos. "A gente brinca que a caminhada com enfoque cultural ajuda a falar com os não convertidos e tratar o tema de uma forma mais transversal. Fazemos coisas na área de pressão política também, participamos de conselhos de transportes e mobilidade", conta Letícia. A ideia é que, a partir das ruas e calçadas, enxerga-se melhor: vê-se mais diverso, com mais empatia e curiosidade.
Para saber mais sobre a iniciativa: https://partio.com.br/projeto/bixiga-a-pe
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Aproveitando o tema, já ouviu falar do Parque do Bixiga? Trata-se de projeto encabeçado pelo Teatro Oficina na luta pela sobrevivência de seu entorno como área popular. O tema está quente e nessa semana diversas ações estão programadas: saiba mais aqui.
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