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Cinco filmes para inspirar travessias, caminhadas e derivas

Adriana Terra

20/08/2018 11h56

Filmes que não trazem as cidades como pano de fundo, mas como personagem valorizado da história são os meus favoritos. Para inspirar derivas e travessias, fiz uma listinha de cinco obras audiovisuais variadas que me inspiram a enxergar a cidade com curiosidade e olhar fresco. Em todos, andar a pé é fundamental para compreender o mundo.

Brás: Sotaques e Desmemórias (2006, de Marta Nehring)
"Descobri o Brás em 1933. O bairro era grande, e eu pequeno", começa a narração do documentário. "Mas se a gente vai começar por aí, fingindo que o Brás era o melhor lugar do mundo, é melhor nem continuar", adverte.  A voz é de Lourenço Diaféria (1933-2008), autor do livro que inspira o documentário. Feito com apoio das secretarias municipais de Cultura e Educação, o filme — que conheci recentemente por indicação de um amigo — costura parte da história do bairro paulistano com as memórias do escritor, jornalista e cronista, nascido e criado ali. Um olhar sobre a cidade a partir do trem, caminhadas interceptadas por garotos jogando bola na rua, tudo isso faz parte do documentário, interessante para conhecer um ponto de vista sobre o Brás.


After Hours (1985, Martin Scorsese)
Dos filmes não tão celebrados do Scorsese, me lembro que passava muito na década de 1990 na TV aberta. Sempre percebi o longa como um passeio por uma Nova York maluca e maravilhosa, onde você pode cruzar em uma madrugada artistas góticas que trabalham com papel machê em seu apartamento-ateliê no bairro industrial, cair em um bar punk em um subterrâneo onde toca The Clash, trocar uma ideia em um café 24 horas com um/uma crush problemático/a que você conheceu naquele dia e até mesmo encontrar Cheech e Chong (que na verdade trabalham como transportadores) na rua.


Heitor dos Prazeres (1965, Antônio Carlos da Fontoura)
De Nova York para a Cidade Nova, bairro do Rio de Janeiro, esse filme começa com o movimento das ruas cariocas na década de 1960. "Não há nada mais sublime que a massa humana", diz o artista plástico e compositor (1898-1966) enquanto, de dentro de um táxi, percorre um Rio de fuscas coloridos até chegar a seu ateliê. A caminhada pelo bairro central da cidade, as crianças sentadas no chão em um dia de sol, a escadaria e a arquitetura do local em que ele trabalha: tudo isso é, por si só, uma viagem a outro tempo e geografia.


Trem Mistério (1990, Jim Jarmusch)
Mais um filme em que tudo acontece em um dia, dessa vez em uma Memphis inóspita, tão bonita quanto triste, por onde um jovem casal japonês, fã de Elvis, Roy Orbison e Carl Perkins, percorre cenários em busca de ídolos que não estão mais ali. Cenas carregando malas na rua, sentados em um banco fumando um cigarro ou ouvindo som em um quarto de hotel antigo compõem o filme, que tem três episódios. Screamin' Jay Hawkins e Joe Strummer estão no elenco.


Adoniran Barbosa e Elis Regina (1978)
Em 1978 o Bexiga já tinha bastante arranha-céu, como canta Geraldo Filme, mas o samba ainda amanhecia firme e forte. Esse filme delicioso mostra um encontro entre Adoniran Barbosa e Elis Regina dando canja em um bar do bairro paulistano, da Carmela, e percorrendo as ruas locais. "Eu vou te mostrar, Elis, o que sobrou do Bexiga antigo. Ainda está uma beleza ainda, viu. Podia estar melhor, mas tá bonito ainda", diz o sambista enquanto eles caminham por vias cheias de casinhas, sendo observados por moradores.

Sobre a autora

Adriana Terra é jornalista e gosta de escrever sobre a cidade e sobre cultura. É co-criadora da série “Pequenos Picos”, mapeamento afetivo de comércios de bairro da capital paulista, e mestranda em Estudos Culturais na EACH-USP, onde pesquisa lugares e modos de vida. Foi criada em Caieiras e há 15 anos vive no centro de São Paulo. Na zona noroeste ou na Bela Vista, sempre que dá, prefere ir caminhando.

Sobre o blog

Dicas de lugares, roteiros, curiosidades sobre bairros, entrevistas com personagens da cidade, um pouquinho de arquitetura e mais experiências em São Paulo do ponto de vista de quem caminha.

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