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Andar desloca o olhar: 4 reflexões sobre cidades caminháveis, pela Sampapé

Adriana Terra

10/10/2018 17h39

Crédito: Sampapé

"Encarar o parar como parte do caminhar." – Francesco Careri em Caminhar e Parar (2017)

"Durante séculos, acreditávamos que os homens mais velozes detinham a inteligência do Mundo. (…) Agora, estamos descobrindo que, nas cidades, o tempo que comanda, ou vai comandar, é o tempo dos homens lentos. Na grande cidade, hoje, o que se dá é tudo ao contrário. A força é dos 'lentos' e não dos que detêm a velocidade elogiada por um [Paul] Virilio (…)." – Milton Santos, Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e meio técnico-científico informacional (1994)

Em agosto passado, dez cidades brasileiras receberam atividades da Semana do Caminhar, iniciativa da ONG Sampapé com foco na mobilidade urbana. Em sua 2ª edição, o evento promoveu caminhadas, palestras, oficinas, exposições e exibições de filmes. A ideia era proporcionar uma conversa ampla sobre cidades, com espaço tanto para questões referentes à políticas públicas quanto comportamentais, culturais.

Pedi para a Letícia Sabino, da Sampapé, falar sobre quatro ensinamentos do evento, e a relevância de trazê-los a público. "É importante reforçar a ideia do tema desta edição: poder caminhar", diz ela. "Toda a campanha e os aprendizados estão em torno desse mote. Tem dois lados aí: o da possibilidade e o do empoderamento. Um mais reivindicando um direito, o outro mais como um elemento que fortalece."

Em tempos em que é mais comum a gente ouvir que São Paulo precisa acelerar, e que os direitos humanos são por vezes vistos como menos importantes, a frase do geógrafo baiano Milton Santos (1926-2001) abrindo o post parece um tanto deslocada. Ao ler as colocações da Letícia abaixo, a ideia é que ela soe mais possível. É, também, a frase escolhida pela ONG para ilustrar um compilado sobre a Semana.

Direitos que se colocam na rua
"Precisamos de uma cidade que nos garanta o direito ao caminhar, lidando com as diferentes vulnerabilidades e com a diversidade das pessoas."

Caminhar juntos: pensar coletivo
"Quando a gente tem espaços democráticos que recebem os diversos tipos de pessoas, temos um desfrute melhor da cidade. É um benefício construído em conjunto. Mas para isso a gente precisa de espaço, de estrutura."

Cada um no seu ritmo
"O ritmo vem muito atrelado a diversidade das pessoas: o idoso vai caminhar mais lento e tem que ter uma cidade que contemple isso. A gente tem uma cidade planejada para um homem jovem com todas as condições físicas padrões, que não contempla a diversidade."

A cidade como quintal
"A gente tem direito a sair para caminhar sem nenhum motivo, conseguindo desfrutar dessa caminhada. Pensar as ruas como um espaço público em si, e não só como um espaço de passagem."

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Para acompanhar os eventos da Sampapé → facebook.com/sampape.sp

Sobre a autora

Adriana Terra é jornalista e gosta de escrever sobre a cidade e sobre cultura. É co-criadora da série “Pequenos Picos”, mapeamento afetivo de comércios de bairro da capital paulista, e mestranda em Estudos Culturais na EACH-USP, onde pesquisa lugares e modos de vida. Foi criada em Caieiras e há 15 anos vive no centro de São Paulo. Na zona noroeste ou na Bela Vista, sempre que dá, prefere ir caminhando.

Sobre o blog

Dicas de lugares, roteiros, curiosidades sobre bairros, entrevistas com personagens da cidade, um pouquinho de arquitetura e mais experiências em São Paulo do ponto de vista de quem caminha.

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