Na Bela Vista, uma livraria simples e rara, com aconchego de casa
Na rua Rocha, no Bexiga, um sobradinho azul com pinta de casa da avó é lar da Livraria Simples, da Tabacaria Marajó e do acervo do artista Otávio Roth (1952-1993). A casa era da avó mesmo: a de Felipe Roth Faya, um dos sócios do espaço, que passou muitos momentos da infância por ali. Ao lado de amigos como Adalberto, o Beto, desde o meio do ano passado ele deu mais um significado para aquele endereço, que funciona como um local misto em que esses três projetos convivem, combinando aconchego de lar com uma seriedade e um cuidado que podem ser notados pela forma como pensam o que expõem, conservam e vendem.
Foi o pouco movimento da via em que ficavam no bairro da Mooca, onde funcionavam antes como livraria e tabacaria, que os fez mudar para o Bexiga. No térreo estão os livros, um jardim cheio de plantas, um espaço infantil bem agradável e recheado de livros potentes, além de poltroninha para quem quiser passar um tempo ali, tomando um café que vira e mexe está sendo passado. Subindo as escadas, fica a Marajó e o acervo de Roth."Sempre ficou claro na minha cabeça ser o mais popular possível, no sentido de as pessoas não se sentirem intimidadas de entrar, perguntar. Comprar livro no Brasil é muito difícil pra muita gente, então quando a pessoa vem numa livraria tem que ser a coisa mais maravilhosa do mundo", acredita Beto. "E temos a ideia de ser 'a loja dos livros impossíveis', o lugar para encontrar aquele livro que está esgotado e sendo vendido a um preço muito alto na internet. A gente intermedia descobrindo com a editora se ainda há um exemplar em alguma distribuidora, em outra livraria. Somos uma livraria mesmo, além de vender livros temos o serviço adicional de ajudar a pessoa a conseguir o livro."
Pelas estantes da Simples convivem harmonicamente de clássicos da literatura a revistas especializadas em cidades, de livros sobre música a títulos do universo das leis, de best-sellers a publicações de tiragem menor.
A partir da experiência que Beto acumulou desde o fim dos anos 1990 — seja trabalhando em livraria do centro de São Paulo ou em uma megastore com franquias pelo país –, ele chegou ao formato. O fato de a Simples ser uma livraria de porta para a rua, bem integrada a uma via que combina moradia e pequeno comércio, também estimula a circulação de pessoas que estão passeando ou em suas rotinas diárias pela região, sem grandes pretensões de consumo, mas que muitas vezes se tornam clientes, amigas.
Pensando o espaço como um impulsionador de uma troca ampla de conhecimento, eles estão realizando também alguns eventos. Recentemente, o capoeirista Rodrigo Minhoca, responsável pela Casa de Mestre Ananias, esteve ali para falar sobre o legado do mestre baiano em São Paulo e no Bexiga.
Vale ficar de olho na programação. E vale também torcer para, entre uma caminhada e outra, tropeçar em mais lugares como a Simples.
Para os fãs das histórias dos moradores em suas relações com a cidade, há ainda uma série disponível nos stories do Instagram da livraria com entrevistas informais feitas com alguns vizinhos citados no início do texto — um deles com quem, não por acaso, ao sair da livraria topamos caminhando pelo bairro.
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