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Grupo cria Instagram para divulgar piscina do Pacaembu como espaço público

Adriana Terra

11/02/2019 08h00

"Queremos ser um canal de informação e de questionamento, além de divulgar a piscina. Estamos unidos pela afinidade do uso do espaço público", conta a programadora cultural Barbara Rangel, que desde que voltou a morar em São Paulo, há dois anos, vai caminhando de seu trabalho na avenida Paulista até o Estádio do Pacaembu algumas vezes na semana para nadar.

O afeto pelo lugar, e também a percepção de que a falta de cuidado ali — como maiores intervalos com a piscina fechada e instalações deterioradas — servia de adubo para que o terreno da defesa da privatização ficasse fértil, fez ela e mais alguns frequentadores se unirem. Há um mês, eles abriram uma conta no Instagram chamada Paca Livre, "perfil para amantes da piscina pública do Pacaembu", com fotos de gente nadando, de competições antigas, frequentadores, detalhes da arquitetura. Ressaltando os usos possíveis, celebrando o local como um espaço de lazer gratuito.

A notícia da continuidade do projeto de concessão do Estádio do Pacaembu para a iniciativa privada, prevista no pacote de desestatização de João Doria (PSDB) antes de deixar a prefeitura para concorrer ao governo do Estado, fez o grupo se posicionar mais firmemente. Na última sexta (8), foi revelado o vencedor da concorrência, arrematada por R$ 111 milhões: a Consórcio Patrimônio SP, que reúne a empresa de engenharia Progen em parceria com o fundo de investimentos Savona, reportou a Folha de S. Paulo. A mesma matéria indicou que a Progen gerenciou complexos esportivos no Rio nas Olimpíadas.

Entre outras coisas, o edital de concessão permite que se cobre para usar locais como áreas de prática esportiva e lazer, caso da piscina. Atualmente ela funciona de terça a domingo das 8h às 17h, com acesso livre para quem tem uma carteirinha que pode ser feita por qualquer morador de São Paulo. No novo cenário, deve ficar aberta menos tempo: cinco horas por dia para atividades livres (antes de retificação, eram apenas cinco horas semanais), e quatro por semana para atividades da Secretaria Municipal de Esportes. A partir da publicação no Diário Oficial, há cinco dias úteis para recursos, conta o blog Olhar Olímpico.

ATUALIZAÇÃO (às 15h30): nesta segunda-feira, foi noticiada a suspensão provisória da concessão (saiba mais aqui).

O Paca Livre se une ao coro de críticas à concessão. A ONG Viva Pacaembu, que vem acompanhando tudo de perto, diz que a medida ignora "duas decisões judiciais nas quais havia exigências específicas". Em comunicado, frisaram ser a favor de um processo mais aberto, com participação popular efetiva.

Um dos argumentos que sustenta a concessão, com prazo de 35 anos, é econômico, mas Bárbara questiona: "você não pode usar o argumento de déficit no equipamento público, porque ele não deveria precisar dar lucro". "Acreditamos que um equipamento público deste porte deve ter como prioridade o atendimento à população, e não o lucro de alguns", defende texto do Paca Livre.

O grupo ressalta que "só em janeiro de 2019, foram 1.200 novos inscritos. De acordo com a própria secretaria do complexo esportivo, a maioria é de fora do [bairro do] Pacaembu".

Nos dias mais quentes de janeiro, Bárbara conta que viu o local, a 15 minutos a pé da linha verde do metrô (estação Clínicas), forrado de gente por volta das 16h30, já perto do horário de fechamento. Gente que toma sol, pratica esportes, paquera, usa a cidade.

Visite o Instagram do grupo: http://instagram.com/pacalivre

Sobre a autora

Adriana Terra é jornalista e gosta de escrever sobre a cidade e sobre cultura. É co-criadora da série “Pequenos Picos”, mapeamento afetivo de comércios de bairro da capital paulista, e mestranda em Estudos Culturais na EACH-USP, onde pesquisa lugares e modos de vida. Foi criada em Caieiras e há 15 anos vive no centro de São Paulo. Na zona noroeste ou na Bela Vista, sempre que dá, prefere ir caminhando.

Sobre o blog

Dicas de lugares, roteiros, curiosidades sobre bairros, entrevistas com personagens da cidade, um pouquinho de arquitetura e mais experiências em São Paulo do ponto de vista de quem caminha.

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