Quando as pessoas ditam o ritmo da cidade
Na sexta-feira passada, testemunhei uma discussão entre um pequeno grupo de ciclistas que andava pela ciclovia da avenida Paulista em um começo de noite e um motorista de dentro de um carro. Não vi exatamente o que ocorreu antes da discussão, o que posso relatar foram algumas pessoas aglomeradas em uma faixa dizendo que estavam andando ali dentro e que têm esse direito.
No mesmo dia, mais cedo, na região da avenida Brigadeiro Faria Lima, alguns patinetes na calçada tiravam fina de pedestres. Fiquei atenta para desviar.
As cenas me fizeram pensar nos protagonismos que existem no espaço urbano, e nas escalas de importância, valor, que as coisas têm. Em questão de mobilidade, acho que o pedestre vai estar sempre lá atrás. Tem uma charge muito boa que vi uma vez, postada na página da ONG SampaPé, que mostrava os carros tendo que acionar o sinal para atravessar as avenidas.
Creio que por isso mesmo a ideia de andar muito a pé parece esdrúxula para alguns. A cidade não foi desenhada para isso, não existe esse estímulo e, quando ele existe, a resistência é grande. Há um ritmo de vida, trabalho, modo de viver, imposto, padronizado — quem não o segue é vacilão. Será?
Diariamente, observando, vejo gente quebrando esses ritmos. Não o tempo todo (mesmo porque o padrão imposto interfere em nossa subsistência mesmo, no ganha pão), e nem sempre conscientemente, mas em alguns momentos, de forma natural, porque a gente traz sempre da nossa história pessoal resíduos de formas e modos de viver. Sejam os ciclistas que reivindicam seu espaço, seja quem deixa o celular de lado no transporte para ler um livro (entrando em outro tempo), seja o comerciante que para em frente de sua lojinha para tomar um sorvete.
Outro dia conheci uma mulher que me disse que havia estudado por anos tarô, mas que nunca quis receber "gente na porta da sua casa", transformar seu saber em profissão. "Imagina se um dia eu tô mal, quero beber uma cerveja na rua e vou ter que falar sobre a vida da pessoa", disse ela. Sem julgamento do que é certo, errado, melhor ou pior, mas achei bonito o respeito ao seu ritmo.
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