Quantas alcunhas e vocações cabem em uma única rua?
Há alguns anos, caminhando pela região da Luz, percebi que a chamada "rua das noivas" virava, a partir de certo ponto, a rua dos manequins. Na época, fiz uma reportagem para entender como se originava aquele comércio, saber um pouco a história da rua, e logo descobri que ali também é a rua das máquinas de costura. São quase como três núcleos.
A forma como o comércio de um pedaço de organiza revela muito sobre os lugares. E a história que me foi contada sobre a São Caetano é a de que, na década de 1970, as primeiras lojas do setor dos manequins passaram a se instalar ali. Uma delas, a Equipaloja, surgiu já nos anos 1990 a partir de uma adversidade que ilustra bem as vocações dessa rua: um comerciante do setor das máquinas de costura, que já estavam pela área, teve um problema de contrato ao vender seu ponto, recebendo manequins como pagamento. Pôs para venda, e sua família atua até hoje no ramo.
Se um sujeito caminha só as duas ou três primeiras quadras a partir da avenida Tiradentes, pode não se dar conta que, para além dos vendedores que te convidam a provar um vestido de noiva ou dos carros antigos que estacionam por ali aos sábados, há na sequência uma dezena de vitrines com manequins variados, e outras com máquinas de costuras enfileiradas. A tríade comercial nem sempre atrai a mesma clientela, é claro, mas representa quase como se fosse um ciclo completo: vende equipamentos para costura, vende roupas, vende o expositor. Passando a avenida do Estado, a São Caetano vai acabar na rua Monsenhor Andrade, já no Brás, onde abriga lojas de roupas.
No Dicionário das Ruas, dá para a gente saber que a São Caetano, que oficialmente fica no bairro do Bom Retiro, foi aberta em 1802. "Durante muitos anos permaneceu esta rua como uma simples trilha (ou caminho) que, iniciando-se no chamado 'Campos da Luz' ou do 'Guarepe' (atual Av. Tiradentes), levava até aquele antigo hospital dedicado aos leprosos [o Hospital dos Lázaros]", registra. Em 1881 veio a ideia do nome, homenagem a um santo da Igreja Católica, oficializado em 1916.
Conversando com o pessoal que está ali há anos, a gente fica sabendo essas outras histórias, mais recentes, ainda mais oralizadas do que escritas. Vale a caminhada — e vale lembrar que, aos sábados, a via fica bem cheia. Citei a rua em um pequeno roteiro de coisas legais para fazer pela região há alguns meses aqui.
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