Livro desenha São Paulo acidental e cotidiana a partir de uma caminhada
Em um dia, a ilustradora Juliana Russo teve a ideia para um livro. No dia seguinte, se propôs a sair de casa para pesquisar, nas ruas da cidade, o material para essa publicação. Caminhou de Perdizes até o Bexiga, passando por Higienópolis, Consolação, praça Roosevelt, República. Observou casas, prédios, árvores. Teve conversas rápidas com gente na rua: ambulantes, artistas, moradores, cidadão no ponto de ônibus. Ouviu diálogos, encontrou uma conhecida, tirou fotos, desenhou. Voltou com o livro pronto.
"Eu pensei: eu posso falar de infinitas coisas, mas eu quero falar do que eu tropeço, sem essa romantização e ao mesmo tempo olhando como tudo é único", diz ela.
"Pequenos Acasos Cotidianos: Presentes e Desastres da Vida Urbana", lançado com apoio do projeto Rumos, fala sobre a São Paulo de um trajeto específico pelo centro expandido, com suas grandiosidades e as pequenezas que persistem, com suas desigualdades, com alguma natureza em meio ao concreto. Fala também sobre a cidade dos detalhes, da presença — e, no caso da Juliana, essa presença é muito marcada pela ação de parar, observar e desenhar –, do olhar tanto para o que é tido como trivial como para os acidentes de percurso, os imprevistos. Nesse sentido, fala de um lugar universal, de uma postura frente ao mundo. Um jogo entre o esperado e o inesperado, entre o corriqueiro e o extraordinário, que pisar no chão, ir para a rua, nos convida a jogar.
"Quando você está permeável na cidade, as coisas acontecem de outra forma. Quando a gente está querendo fluir por São Paulo, chegar logo a um lugar, é muito frustrante por causa do trânsito e tal. E quando você se propõe a se abrir para esse espaço módico que a cidade também oferece, nesses momentos a cidade se abre pra gente", diz ela.
A ilustradora vem trabalhando com a temática do urbano há uns bons anos. Ela atuou no Cidades para Pessoas, iniciativa que surgiu em 2011 pesquisando projetos que deixam as cidades mais humanas, lançou em 2015 o livro "São Paulo Infinita" e é também integrante do Urban Sketchers, grupo que reúne desenhistas de cidades pelo mundo. Começou a se interessar pelo espaço público — da rua de casa ao outro lado da cidade — de criança, mas foi se dando conta da recorrência do tema em seu trabalho com o passar dos anos.
"É um processo da minha vida. Eu nasci em São Paulo, então acho que tive por bastante tempo uma relação mais conturbada com a cidade, e de uns vinte anos para cá eu comecei a me abrir para enxergar a cidade através da caminhada. O desenho me levou muito para a rua. Muito do que eu aprendi sobre a cidade vem de olhar", diz ela.
No livro, esse olhar passa por altos muros de casarões com natureza abundante em seu interior zelados por seguranças em minúsculas guaritas na rua, pelo visual das grandes galerias do centro, por cuidadoras de idosos no parque, pelo jovem ouvindo um som sentado na praça, por outro jovem tomando geral de dois policiais, pelo vendedor de sorvetes que posa feliz para um retrato, pela banquinha de óculos do ambulante, por mensagens dos cartazes colados no centro da cidade, pela garota na porta do comércio distraída na tela do celular, pela laje cheia de plantas do boteco de esquina. Passa pela beleza e pela precariedade da cidade, "presentes e desastres". "Acho que o livro tem a força de uma pureza", diz Juliana.
A ilustradora está vendendo "Pequenos Acasos Cotidianos: Presentes e Desastres da Vida Urbana" (R$30) e expondo os desenhos originais do livro no espaço Sala Aberta, aberto às sextas. Para mais informações, o e-mail é: projetosalaaberta@gmail.com.
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