O que a gente busca em uma festa junina vivendo em São Paulo?

Teto do galpão da festa do Centro de Tradições Nordestinas, no bairro do Limão
"Eu acho que está acontecendo com as festas juninas um pouco o que aconteceu com o Carnaval de rua em São Paulo", comentou uma amiga, depois de eu contar da fila que havia acabado de pegar em uma quermesse perto de casa, a fim de comprar um quentão e um pastel. Não eram nem 18h e já havia gente esperando do portão para fora.
O pastel de feira que eu encontro em um monte de lugares a qualquer hora, o quentão que sei reproduzir mais do meu gosto em casa: por que pegar uma fila pra isso? A festa que mencionei é simples, conta com umas seis barracas de comida e um palco com atrações pouco conhecidas, além de uma caixa de som tocando um sertanejo pop antes dos shows.
Claro que existem festas juninas de todos os tipos em São Paulo: algumas com ótimo forró, grandes quadrilhas, correio elegante agitado, muitas prendas. A cidade é grande, plural, e há diversas formas de festejar os santos de junho. Nascida em noite de Santo Antônio, para mim sempre foi a festa mais especial: na rua da casa da minha infância, a celebração tinha a via fechada, muita biriba, fogueira e alguém emprestava uma garagem de parede de reboco, aberta, para colocar os comes e bebes, que eram dos mais variados. Tinha churrasco também.
Olhando a programação de festas gratuitas da cidade neste ano, para além dos arraiás de clubes e das quermesses de igrejas, vi que tem festa na rua, bumba-meu-boi, repente. Me lembrei ainda de colegas de outros cantos do Brasil que volta e meia fazem suas festas juninas, caprichadas, cheias de lembrança bonita de outras geografias.
No entanto, mesmo as festas juninas mais modestas já fazem o olhinho de muito paulistano (ou morador da cidade) brilhar. "Me convidem pra quermesses", diz o tema de foto de perfil do Facebook, com imagem de paçoca, pamonha e bolo de milho — embora até pizzinha e hot dog façam sucesso nesses eventos, não vamos mentir.
O que faz dessas celebrações especiais? Tentando entender por que eu desviei meu caminho no sábado para entrar nessa fila, acho que tem a ver com um clima de festa de vizinho com prato de doce e de salgado, de festa de quintal, agradável tanto para a adolescente de cropped quanto para a tia-avó de blusão de lã, que parece mais raro — embora nunca tenha deixado de existir — na lógica de prédio, condomínios, bar da moda ou shopping. Tanto é que mesmo esses lugares por vezes buscam reproduzir, de um jeito meio duro, esse tipo de festa.
A fichinha, a senhora que prepara a carne louca demoradamente, as pessoas conversando em roda enquanto assopram seu vinho quente: tem uma característica descomplicada, sem firula e mais comunitária, presente tanto nessas quanto em outras celebrações populares que persiste mesmo quando falta pinhão ou a fogueira demora para acender, ou então a banda de forró veio do Butantã mesmo, e não da Paraíba.
Me parece que a tentativa de fazer a festa junina rolar, impulsionada por aquilo que vinculamos à ela, seja como lembrança ou como imaginação, pode nem sempre render a quermesse mais autêntica (e aí cada um reclama segundo seu critério), mas ela é o olhinho que brilha na busca por uma. "Me convidem pra quermesses" é um pedido que faz sentido em São Paulo.

Tradicional arraiá do CTN, no bairro do Limão
Conhece a origem desses festejos?
No livro "Almanaque Brasilidades", o historiador carioca Luiz Antonio Simas conta assim: "No Hemisfério Norte, as celebrações relacionadas às fogueiras e demais ritos do fogo marcavam o solstício de verão e a evocação de divindades propiciadoras da fartura em tempos de colheita. Essa herança pagã fundiu-se ao cristianismo popular e se apresenta com força especial nas festas de Santo Antônio, São Pedro e São João. Chegando ao Brasil com a colonização portuguesa, o culto aos santos juninos foi redimensionado e vitalizado ao entrar em contato com elementos indígenas e africanos. É ainda fortemente ligado ao Brasil agrário, marcando o ciclo inicial da colheita do milho, as rogações contra a seca e desdobra-se em celebrações da vida (…)".
Mais sobre festas juninas:
Guia da Folha – Festas juninas para o mês inteiro
Mural – Fora do centro, festas mantêm tradição de quermesse
UOL Comidas e Bebidas – Receitas de festa junina
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