Uma cartografia fotográfica sobre os limites de São Paulo
Onde a cidade de São Paulo acaba? E onde ela começa? As fronteiras com outros municípios são finais ou inícios de cidade? Segundo o dicionário Houaiss, perímetro quer dizer, no universo do urbano, "linha que delimita uma área ou região". Essa foi a palavra escolhida pelo fotógrafo Keiny Andrade ao pensar o projeto "São Paulo Perímetros", uma "cartografia fotográfica dos limites" da cidade, como ele classifica.
Circulando há anos pela capital como fotojornalista de diversos veículos, dentre eles deste portal, Keiny criou uma curiosidade acerca da dimensão de São Paulo e daquilo que escapa ao registro fotográfico habitual. "Eu fiquei com vontade de falar sobre essa São Paulo que a gente não vê no cartão postal, não vê direito no jornal, não vê urbanisticamente. Estamos acostumados a ver o Masp, a Berrini. Quando se fala em São Paulo, as imagens que pipocam na nossa cabeça são prédios, lugares excessivamente reproduzidos. A cidade é mostrada do centro para fora. O que é esse lugar que gruda com a Serra do Mar? É como se houvessem tentáculos e o centro fosse a cabeça de um polvo, e os tentáculos vão se encontrar com outra cidade, e ali tem vida também", reflete.
No processo de decidir qual o caminho a ser tomado nessa cartografia dos limites político-territoriais de São Paulo, Keiny pensou que não era seu lugar falar sobre um espaço que não vivencia. Também não queria fazer um projeto fotojornalístico. Decidiu-se por um tipo de fotografia que gosta. "É uma fotografia de passagem, a minha impressão, um primeiro olhar. Não tenho a pretensão de interagir com o lugar, são mais as características urbanas. Imaginar e narrar imageticamente o que seria esse tracejado. Isso que me atraiu", diz ele.
O método para produzir essas narrativas visuais sobre os lugares que delimitam São Paulo envolve buscar informações precisas sobre a linha divisória, navegar pela ferramenta Street View do Google para entender as características desse espaço e, na sequência, visitá-lo, caminhando por ali para olhar e sentir um pouco o ambiente. Por se tratar muitas vezes de lugares menos construídos, em alguns casos rurais, Keiny diz perceber as diferenças de ritmos, evidentes não só na ausência de prédios ou carros, por exemplo, mas no caminhar, na fala das pessoas.
Seja por não serem imagens habituais da cidade, reproduzidas midiaticamente, seja por configurarem locais talvez mais distantes do projeto de cidade moderna, as paisagens que encontra ali por vezes parecem "locais que podem pertencer a vários lugares", reflete. "Tem áreas com características específicas: a divisa de Guarulhos com Ermelino Matarazzo tem galpões, e quando ainda não foram construídos, são regiões de matagais, com cavalos. Fico tentando achar essa magia nesses lugares".
Pensando na carga subjetiva desse olhar, desse recorte que faz, Keiny tem em conta que o processo envolve a sua própria relação com a cidade. "Parto da hipótese de que uma paisagem pode ser sobre um lugar, sobre o outro e sobre nós mesmos", escreveu ele em texto sobre a iniciativa.
Não são poucos os tentáculos desse polvo. A cidade de São Paulo faz fronteira com outros 21 municípios. Limite é diferente de fronteira, e tem a ver com lugares específicos, legalmente formalizados. Fronteiras são mais dinâmicas, fluidas. Pensar as linhas que dizem o que é São Paulo, imageticamente e poeticamente falando, e o que já não é, são provocações dessa cartografia em processo que pode ser acompanhada pelo Instagram.
"São linhas imaginárias: o que vem a sua cabeça quando você as olha no mapa? Às vezes elas são um rio, linhas determinadas pela natureza, às vezes linhas criadas pelo homem. Criando essas imagens, eu estou criando as minhas linhas", diz ele.
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