Caminhar pelo centro de São Paulo para discutir direito à cidade
Na manhã do próximo dia 31 de outubro, quinta-feira, ocorrem em São Paulo três caminhadas organizadas pela ONG Instituto Pólis para falar sobre direito ao espaço urbano. Os trajetos percorrem a região central, então é uma oportunidade para refletir sobre os desafios para uma cidade mais igualitária e também sobre o que entendemos como centro, o que essa localização simboliza e quais são os interesses que a envolvem ao longo da história.
São roteiros pensados por grupos que atuam em diferentes frentes. Há uma caminhada com o coletivo Cartografia Negra, atuante desde 2017, propondo uma reflexão sobre a vivência da população negra na cidade.
"Eu sempre gostei de andar muito pelo centro, de ir a museus e cinemas, que estão mais concentrados nessa área, e conforme eu fui me descobrindo como mulher negra, fui me descobrindo também na cidade, e percebia que muitas vezes eu era a única pessoa preta nesses espaços", conta a cientista social Raíssa Albano, integrante do coletivo.
"Que processos se deram que fizeram com que essa população não esteja ali, que apagaram essas memórias?", questiona. Para quem quer conhecer o trabalho do grupo, já nesse sábado (26) há uma edição da Volta Negra.
Um segundo percurso passará por pontos e regiões relevantes para a população LGBTQI+, abordando discriminação e apropriação da cidade. "A caminhada toda tem uma perspectiva crítica, a ideia é que a gente pare em alguns momentos para discutir mesmo", explica o cientista social Bruno Puccinelli, que estudou as relações entre sexualidade e espaço urbano em suas pesquisas de mestrado e doutorado.
"Devemos partir da praça da República, pensando a presença histórica e atual de travestis, mulheres trans e homens cis que se prostituem, bem como o assassinato de Edson Neri da Silva em 2000 e o Museu da Diversidade; passar pela avenida São Luís — a galeria Metrópole foi um ponto de encontro importante, em especial nos anos 1980; ir até o Copan, que já foi marcado pela presença de moradoras trans; passar por um bloco de ruas que sempre foi de prostituição e moradia, mas isso tem mudado agora rapidamente por causa do processo imobiliário; passar por uma casa noturna que não existe mais para falar da Andréa de Mayo; e terminar no largo do Arouche, para discutir as disputas que estão rolando ali. O roteiro atravessa as camadas históricas desde a década de 1950, mas dialogando com o presente o tempo todo", explica ele.
Já a caminhada organizada pela União Nacional de Trabalhadoras e Trabalhadores Camelôs, Ambulantes e Feirantes do Brasil (Unicab) irá pensar a relação dos espaços públicos com quem atua na economia informal. Nascida como um "legado da Copa" [do Mundo de 2014], conta a pesquisadora Maíra Vanucchi, a fim de atentar a processos de higienização urbana do período, a organização atua em prol de uma política nacional que não criminalize os ambulantes.
"Vamos passar pelos imigrantes africanos na rua Barão de Itapetininga, atravessar o Viaduto do Chá, descer a avenida Líbero Badaró e a ladeira Porto Geral até a praça Fernando Costa. Passar por vendedores de frutas, meias, tecidos. Gente que coloca as coisas na calçada e os mais estruturados, para ter uma boa noção das categorias de trabalho que existem nesse setor", explica Maíra.
Pela tarde do mesmo dia, haverá uma oficina para refletir, a partir das percepções das caminhadas, sobre a experiência de diferentes grupos sociais na região central, bem como uma conversa com convidados de outros países da América Latina.
O evento é uma parceria com as plataformas Habitat International Coalition – América Latina e Global Platform for the Right to the City, além dos já citados Unicab e Cartografia Negra. Todos os roteiros são gratuitos, e para se inscrever é necessário acessar preencher um formulário nesse link.
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