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Roteiros abordam memória e resistência negras em bairros de São Paulo

Adriana Terra

20/11/2019 12h14

A porta-bandeira Cleusa Carlos Vaz e o mestre-sala Sérgio Neris Ferreira dos Santos (Serginho) comemoram o título do Vai-Vai em 1986; um roteiro parte da quadra da escola de samba para falar da memória negra do Bexiga | Foto: Silvestre P. Silva – 14.fev.1986/Folhapress

No mês da Consciência Negra, cujo dia (20 de novembro) lembra a luta de Zumbi dos Palmares, a cidade de São Paulo tem uma série de roteiros que buscam refletir sobre a memória negra — apagada, deslocada ou invisibilizada — de bairros da cidade, em especial da região central.

No próximo sábado, dia 23, dois roteiros percorrem o Bexiga mostrando que nem tudo é italiano: antes da chegada desses imigrantes, a região já era ocupada pela população negra, e a herança afro ainda pode ser vista em diversas partes dela, hoje também um território nordestino. Um dos percursos é realizado pela Feira Preta em parceria com o Diáspora Black, o outro pelo Instituto Bixiga de Pesquisa, Formação e Cultura Popular.

No mesmo dia, na zona sul da cidade, um encontro no Centro de Culturas Negras do Jabaquara "Mãe Sylvia de Oxalá", território onde ficava o antigo Sítio da Ressaca — espécie de "quilombo de passagem", ponto de parada de escravizados e escravizadas na rota para o Quilombo do Jabaquara, em Santos, há mais de 400 anos — aborda os territórios negros da região e a ideia de patrimônio.

No Largo São Francisco, a Igreja das Chagas do Seráfico Pai Francisco, à direita, cuja fachada foi talhada pelo arquiteto Tebas, tema de um dos roteiros de memória negra na cidade | Foto: Dário Oliveira / Folhapress

Já no dia 26, terça-feira, à partir das 19h uma caminhada discute a história do arquiteto Joaquim Pinto de Oliveira Tebas (1721-1811), homem negro, protagonista da produção social do triângulo histórico de São Paulo. O percurso tem mediação do escritor, jornalista e pesquisador José Abílio Ferreira e parte da Igreja da Boa Morte, na região da Sé.

No dia 30, último sábado do mês, o coletivo Cartografia Negra realiza mais uma edição da Volta Negra, caminhando por alguns pontos relacionados à vivência da população negra na região central no século 19, como a atual praça da Liberdade e o Largo da Memória. "Esses lugares são semelhantes ao que foram os campos de concentração nazistas. Porém, não são demarcados. Além disso, também caminharemos por espaços de resistência da comunidade negra da época", explica descritivo do evento.

Conheça abaixo também outros coletivos que vêm trabalhando, em roteiros a pé pela cidade, com memória e identidade, atentando para os apagamentos (ou tentativas de apagamentos), as tensões e a multiplicidade de narrativas do espaço urbano. 

História da Disputa: Pesquisa e vivência para debater história na rua
Ururay: Por memória diversa, grupo pesquisa e divulga patrimônio da ZL
Passeando pelas Ruas: Um jogo que incentiva olhar amplo sobre SP
Caminhada das Quebradas: Conhecendo o macro e o micro
Crônicas Urbanas: Guia mapeia experiência negra em SP

Sobre a autora

Adriana Terra é jornalista e gosta de escrever sobre a cidade e sobre cultura. É co-criadora da série “Pequenos Picos”, mapeamento afetivo de comércios de bairro da capital paulista, e mestranda em Estudos Culturais na EACH-USP, onde pesquisa lugares e modos de vida. Foi criada em Caieiras e há 15 anos vive no centro de São Paulo. Na zona noroeste ou na Bela Vista, sempre que dá, prefere ir caminhando.

Sobre o blog

Dicas de lugares, roteiros, curiosidades sobre bairros, entrevistas com personagens da cidade, um pouquinho de arquitetura e mais experiências em São Paulo do ponto de vista de quem caminha.

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