Pesquisadores criam jogo que incentiva olhar amplo sobre São Paulo
São Paulo das marginais e da 25 de Março. Do Butantã e de São Miguel. São Paulo de Carolina Maria de Jesus, São Paulo de Gabriela Mistral. De Oswald de Andrade e Mano Brown. Do Parquinho de Itaquera, do Ibirapuera. São Paulo do Pari e de Pinheiros. De Luís Gama e Mario Zan. Do "Fim de Semana no Parque", do "Ano em que Meus Pais Saíram de Férias". Do "Mundo da Lua" e do "Peixonauta".
O Passeando pelas Ruas surgiu em 2014 como um grupo interessado em compartilhar conhecimento sobre a cidade, questionando o que é classificado como histórico, ampliando o que é tido como patrimônio, situando São Paulo como campo de disputas, local de interesses distintos, a fim de que as variadas populações que diariamente a constrõem se reconheçam nela e vivenciem melhor esse espaço.
De lá para cá, seus integrantes — pesquisadores que se conheceram na Unifesp: a estudante de pedagogia Paloma dos Reis e os historiadores Renata G. C. de Almeida e Philippe Arthur dos Reis — realizaram roteiros gratuitos por regiões diversas da capital, a fim de "falar de processos de urbanização, não só de lugares", conta Renata, e "colocando tensão nesse processo", completa Philippe.
"É uma forma de extensão acadêmica, uma outra forma de divulgar o que temos pesquisado", reflete a historiadora, pensando na importância do diálogo para além da universidade.
A mais recente iniciativa deles é um jogo de tabuleiro, lançado com apoio do edital municipal VAI. O jogo não foi feito para ser comercializado, mas deve ter uma distribuição voltada para o uso didático. A ideia dele é a mesma dos roteiros feitos pelo coletivo: promover o direito à cidade estimulando o conhecimento sobre ela, funcionando como um ponto de partida para estudar mais o espaço em que a gente vive.
Na brincadeira, cartas dão dicas de lugares, patrimônios, pessoas e produções culturais que têm vínculo com São Paulo. Acertando, o jogador avança uma casa. Há cinco caminhos a serem escolhidos, representando as regiões da cidade (leste, oeste, norte, sul, central). Tem charadas com nomes mais manjados, outros mais difíceis. "Tem coisas fáceis e outras não tão usuais, para ter uma forma de aprendizado", conta Renata.
Interessante ao jogar perceber o que é tido como mais ou menos conhecido e como isso tem relação com o que aprendemos na escola e com o modo como a imprensa, filmes, novelas e séries retratam.
Chama também a atenção uma quantidade significativa de mulheres na categoria de personalidades, pessoas cujas trajetórias muitas vezes foram invisibilizadas."A ideia desse jogo é de não simplesmente privilegiar espaços e sujeitos comumente conhecidos pela comunidade paulistana, mas de trazer ao debate lugares e vozes que foram silenciadas ao longo do tempo. Assim, por meio de um 'passeio pelas ruas de São Paulo', desejamos que as pessoas percebam o quão diversa e contraditória é essa cidade", diz o texto que acompanha o tabuleiro.
Tem também crítica e humor nas dicas, o que torna o jogo mais saboroso. E tem informações que incentivam os curiosos a circular e se informar mais: saber que a Freguesia do Ó é um bairro de mais de 435 anos; que o Sítio da Ressaca no Jabaquara foi um quilombo; que Adoniran Barbosa morava na Cidade Ademar; que o Mercado Municipal outrora abrigou munições; que o Jardim da Luz é o parque mais antigo da cidade.
Quem gostou da ideia do jogo pode acompanhar o coletivo: os roteiros que eles fazem têm muitas informações usadas na brincadeira e, o melhor, são formas de caminhar mais por São Paulo. Em agosto, eles estarão com passeios na Jornada do Patrimônio. Aos interessados no uso didático desse material, vale falar com o grupo: www.facebook.com/passeandopelasruas.
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